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Resenha: Laranja Mecânica
(Finalmente, mais de um ano depois de ter lido, além de ter emprestado para duas pessoas, consegui postar a resenha do tão famoso
Laranja Mecânica. Tudo que está abaixo, foi escrito em Janeiro de 2016, só uma observação mesmo.)
Depois de tanto ouvir falar, li essa distopia clássica e
incrível que é Laranja Mecânica. No Natal de 2015, ganhei de Tom - ♥ - essa
edição LINDA da Editora Aleph em comemoração aos 50 anos da história e foi a
minha primeira leitura de 2016. Achei que demoraria muito pra terminar
exatamente por ser pesado, mas li em poucos dias por conta da curiosidade.
A história
Alex
DeLarge é um amante da música que faz parte de uma gangue de garotos formada
para assombrar a metrópole em que vivem. Apesar de ter somente 15 anos, ele
não pensa duas vezes antes de praticar atos de violência extrema, incluindo
estupros, roubos, invasões de domicílios e até assassinatos. E tudo isso só lhe
traz um enorme prazer.
“Estou falando sério sobre isso com vocês, irmãos. Mas eu faço o que faço porque gosto de fazer.”
É
numa dessas invasões que algo dá errado e Alex acaba sendo pego pela polícia,
ao contrário de seus amigos, o que o faz sentir-se extremamente traído. Depois
de passar alguns longos dias na prisão, submetem o garoto a um novo tratamento que
anda sendo falado pela cidade com o objetivo de acabar com esse seu desejo por
violência e torná-lo um “homem bom”: a Técnica Ludovico.
“- Será sua própria tortura – ele disse, sério. – Espero, por Deus, que essa tortura enlouqueça você.”
Alguns
dias de torturas desumanas se passam e todo esse processo, principalmente a
consequência dele, nos faz refletir muito sobre diversos assuntos, como o
livre-arbítrio. É claro que Alex sai diferente daquele lugar, mas será que tudo
isso mudou seu modo de pensar?
“- O que Deus quer? Será que Deus quer bondade ou a escolha da bondade? Será que um homem que escolhe o mal é talvez melhor do que um homem que teve o bem imposto a si?”
Minha opinião
Vou
me apossar de uma das gírias mais usadas por Alex e descrever esse livro: bem horrorshow. É uma história, sim, pesada
e violenta, mas conseguiu me prender como eu não esperava que fizesse e me
surpreendi com a inteligência do autor, que vai desde o título e nome do
personagem até as mensagens nas entrelinhas.
Por
ser narrado por Alex, ou seja, em primeira pessoa, podemos observar todas essas
situações a partir do olhar do garoto, então acabamos criando certa empatia por
ele. Pois é, achei isso incrível, porque ele é um personagem extremamente
maldoso, que teria tudo pra ser odiado, mas a gente acaba torcendo pra algo dar
certo na vida dele. Não que eu quisesse que suas empreitadas dessem certo, mas
sim que ele acabasse feliz, satisfeito com uma vida saudável e pacífica. Deu
pra entender?
Alex também conversa bastante com o leitor, tem todo aquele toque autobiográfico. O
livro é dividido em três partes: a época em que saía por aí praticando
violências com sua gangue (I), o momento em que foi pego e o que aconteceu
nesse período (II) e sua vida depois das torturas (III). Em cada parte, temos
um ilustrador diferente. Eles são Angeli, Dave McKean e Oscar Grillo, todos
fizeram trabalhos incríveis.
Uma
das coisas mais interessantes no livro é o uso de gírias constantemente. Mas
não são gírias comuns ao nosso vocabulário, elas são uma mistura de inglês com
russo e causam toda uma estranheza, o que foi um dos objetivos do autor.
Confesso que era meio chato ficar consultando o glossário no fim do livro, mas
tem coisas que dá pra entender no contexto e que você acaba decorando, mesmo
assim acabei curtindo a ideia depois. Um exemplo de frase do livro com as
gírias pra vocês terem um gostinho: “Fiquei surpreso e só um malenk pugli de
sluchar o Tosko govoretando aquilo.”
Anthony
Burgess era um homem bastante inteligente e fez algumas criticas entre as
páginas, como o fato de que certos poderes totalitários acabam por reduzir
nossa liberdade individual.
“O que tentei argumentar, com o livro, era o fato de que é melhor ser mau a partir do próprio livre-arbítrio do que ser bom por meio de lavagem cerebral científica. Quando Alex tem o poder da escolha, opta apenas por violência. Entretanto, existem outras áreas de escolha, como ilustra seu amor pela música.”
Essa
edição é tão linda que nem sei dizer. A Aleph caprichou demais, tem capa dura
com jacket, detalhes incríveis – tudo
preto, branco e laranja -, ilustrações e, ainda, extras com entrevistas com o
autor e alguns textos do mesmo, incluindo manuscritos. Puro amor, dá ainda mais
vontade de ler.
O livro sem a jacket/luva.
“Afinal, que noção poderia ser mais bizarra do que uma laranja mecânica? A imagem atraiu-me não somente como algo fantástico, mas também como algo obscuramente significativo; surreal, mas também obscenamente real. O casamento forçado de um organismo com um mecanismo; de uma coisa com vida, que amadurece, é doce, suculenta, com um artefato frio e morto.”
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